Você já foi tomado por uma emoção avassaladora ao assistir a um filme comovente, sentiu um arrepio com a vitória de seu time do coração, ou experimentou um calor no peito durante um momento especial com amigos? Se a resposta for sim, é provável que você tenha vivenciado o "kama muta", um sentimento que, embora comum, raramente é nomeado. Não se trata de tristeza, alegria ou mera empatia, mas de uma experiência emocional singular que a Psicologia busca desvendar.

O termo "kama muta" foi cunhado por Alan Fiske, antropólogo e Psicólogo da Universidade da Califórnia em Los Angeles, nos Estados Unidos. Ele descreve essa emoção como aquela que surge do fortalecimento dos laços de conexão humana, especialmente em situações de partilha e união entre indivíduos (Fiske).

Para Jon Zabala, pesquisador da Universidade do País Basco, o kama muta "nos leva a acolher e a cuidar dos outros" (Zabala). A etimologia da palavra, que em sânscrito (antiga língua indiana) significa "comovido pelo amor", já aponta para sua natureza intrínseca. Janis Zickfeld, professora da Universidade de Aarhus e coautora de estudos sobre o tema, exemplifica com o reencontro inesperado e emocionante entre amigos queridos após longo tempo (Zickfeld).

A partir dessas observações iniciais, uma extensa pesquisa foi conduzida em 19 países, envolvendo milhares de entrevistas. Os participantes foram convidados a rememorar episódios em que choraram de forma positiva. Além disso, vídeos foram exibidos, incluindo um que retratava a trajetória de um casal, desde o beijo na juventude até a velhice. Os resultados revelaram que esses vídeos evocaram significativamente mais elementos do kama muta do que conteúdos de tristeza ou humor (Pesquisa Global).

Em todas as culturas estudadas, os participantes relataram ter sentido essa emoção pelo menos uma vez na vida, confirmando a universalidade do kama muta, independentemente de cultura, idade ou origem. Fisiologicamente, quem o experimenta pode apresentar um aumento da temperatura corporal e uma desaceleração do ritmo cardíaco (Pesquisa Global).

Atualmente, com a proliferação das redes sociais, o kama muta tem sido amplamente percebido em vídeos virais, como os de filhotes de animais, que ativam nosso instinto de proteção devido à sua vulnerabilidade, conforme explica Fiske. Contudo, essa poderosa emoção transcende o entretenimento e pode ser estrategicamente utilizada em outros contextos. Fiske alerta para a forte presença do kama muta no marketing, dada sua eficácia em tocar as pessoas emocionalmente. No âmbito político, a emoção também se mostra uma ferramenta influente. Por exemplo, campanhas democráticas e republicanas nas eleições americanas de 2016 teriam conseguido despertar o kama muta em seus eleitores, intensificando o engajamento e a intenção de voto, segundo reportagens do The Guardian.

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